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“Fazer discípulos de todas as nações”: a missão da igreja - Parte 2
O processo de estabelecer novos discípulos é a essência da missão bíblica confiada aos cristãos
Como lemos em Mateus, a última instrução dada por Jesus Cristo aos discípulos foi: “Ide […] fazei discípulos de todas as nações” (Mateus 28:19; conforme Atos 1:8). Isso mostra que “os membros da igreja foram chamados a sair do mundo para serem enviados de volta ao mundo com uma missão e uma mensagem. O chamado ao evangelismo surge de uma inequívoca ordem do Senhor da igreja”.[1]
Em outras palavras, o discipulado de Jesus deve ser vivido em meio ao mundo.[2] E não estamos falando de algo referente apenas àqueles que são obreiros ou missionários. Estamos falando numa forma de vida que deve ser a norma também na vida profissional diária de todas as pessoas. Dito de outro modo, “o discipulado de Jesus não é a recompensa para alguns por um comportamento especial, mas sim […] o mandamento divino [que] abrange a todos os cristãos”.[3]
O que é Discípulo e Discipulado?
Fazer discípulos implica ensinar, instruir. Também implica formar aprendizes, pupilos, alunos.[4] O principal vocábulo grego traduzido como discípulo é mathetes, usado nos evangelhos para se referir a um seguidor de Jesus, um aprendiz de Jesus, e alguém comprometido com Jesus.[5] Portanto, um discípulo “é alguém que ouviu o chamado de Jesus e se torna Seu seguidor”.[6] De modo que a figura do discípulo se refere a alguém que segue a Cristo.[7]
Em relação ao conceito de discípulo, uma ideia parecia ser clara e consensual entre os primeiros cristãos: não deveria haver diferença entre ser discípulo e ser cristão. Tanto isso é verdade que, em João, mathetes é, frequentemente, um termo utilizado para expressar proximidade e compromisso com Cristo (João 8:31; 13:35; 15:8); diríamos que “discípulo” é sinônimo de “cristão”.[8] Ou seja: se sou cristão, sou discípulo; se sou discípulo, sou cristão. Assim, se sou cristão, então sou seguidor de Cristo, sou aprendiz dEle, e vivo em compromisso com Ele.
“O discipulado cristão é um relacionamento de mestre e aluno baseado no modelo de Cristo e Seus discípulos, no qual o mestre reproduz tão bem no aluno a plenitude da vida que tem em Cristo que o aluno é capaz de treinar outros para que ensinem outros”.[9] O resultado do processo de discipulado aparece em forma de mais discípulos: o discípulo se torna um discipulador. Podemos afirmar, então, que o “discípulo é o aluno que aprende as palavras, os atos e o estilo de vida de seu mestre com a finalidade de ensinar outros”.[10]
Pessoas reunidas se confraternizando, sorrindo, cantando e lendo a Bíblia é algo muito bom, mas é necessário que se faça muito mais: com uma vida disciplinada, o discípulo precisa se tornar um discipulador. Fazer menos do que isso é descaracterizar “a religião que foi fundada por Jesus”.[11]
A igreja tem a missão de formar discípulos que se tornem discipuladores. Com que finalidade? Com a finalidade de se engajarem na missão, e de engajarem outros na missão. E como a igreja pode ajudar as pessoas a se tornarem discípulos e discipuladores? Ou seja, Como podemos sair da condição de crentes seguidores de Cristo, para nos tornarmos discípulos equipados, verdadeiros discipuladores?
É fundamental que a igreja promova algumas ações que visem o discipulado; eu quero comentar três dessas ações, duas das quais ficarão para o próximo artigo.[12]
1.A fim de ajudar os membros a serem discípulos e discipuladores, a igreja precisa promover práticas ou disciplinas espirituais pessoais.
Uma das principais disciplinas espirituais é a oração. Todo discípulo e discipulador ora constantemente, ora sem cessar (1 Tessalonicense 5:17); ou seja, mantém-se sensível à voz de Deus o tempo todo. Faz isso em seus momentos devocionais, pela manhã (Salmo 5:3), mas também o faz durante o dia a dia, seja antes de uma refeição, antes de tomar uma decisão, ou mesmo em gratidão a Deus antes e após uma negociação comercial bem sucedida, ou antes e depois de um atendimento médico. Considerando que as pessoas oram pouco, talvez seja necessário que ensinemos as pessoas a orar e que insistamos na importância de uma vida de oração.
A leitura da Bíblia é também outra disciplina espiritual. Todo discípulo e discipulador lê a Palavra de Deus. Todavia, os mais valiosos ensinos da Bíblia não serão obtidos com um estudo ocasional ou fragmentado. Seu grande conjunto de verdades não é apresentado de modo a ser descoberto pelo leitor apressado ou descuidoso. Muitos de seus tesouros jazem muito abaixo da superfície, e só se podem obter por uma pesquisa diligente e contínuo esforço. As verdades que irão perfazer o grande todo, devem ser pesquisadas e reunidas “um pouco aqui, um pouco ali”.[13] Precisamos ensinar os membros da igreja a como ler e compreender a Bíblia. Não basta que lhes cobremos a leitura da Bíblia. É necessário dizer como fazer isso.
Além de orar e ler a Bíblia, o verdadeiro discípulo e discipulador pratica a meditação cristã. O Salmo 119:48 registra: “Os meus olhos antecipam-se às vigílias noturnas, para que eu medite nas tuas palavras”. O salmista nos conclama à meditação, que é o momento sublime quando arrancamos o fone dos ouvidos, quando nos desconectamos do bate-papo virtual, quando ficamos quietos e entramos em sintonia com Deus: com calma, com paciência, como quem espera um encontro especial.
O que dá real sentido à nossa vida e o rumo correto para o cumprimento da missão é saber estar a sós com Deus. É começar o dia com Deus. É primeiro Deus.
[1] Tratado de Teologia, p. 610.
[2] Dietrich Bonhoeffer. Discipulado. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p. 24.
[3] Ibid., p. 23.
[4] Strong, J. (2002). Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil.
[5] Bill Hull. The Complete Book of Discipleship: On Being and Making Followers of Christ. Colorado Springs, Colorado: NavPress, 2006, p. 32.
[6] Lothar Coenen e Colin Brown, organizadores. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p. 578.
[7] The Complete Book of Discipleship, p. 33.
[8] Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p. 587
[9] Keith Phillips. A Formação de um Discípulo. 2a edição. São Paulo: Vida, 2011, p. 20.
[10] Ibid., p. 19.
[11] Idem.
[12] Adaptado de Greg L. Hawkins e Cally Parkinson. Siga-me: O Que Vem a Seguir? São Paulo: Vida, 2009, p. 36 a 54.
[13] Ellen G. White. Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003, p. 123.
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